Aprendiz

A Música na Maçonaria


Por me interessar pelo assunto, iniciei algumas pesquisas e descobri que muito se tem
escrito, discutido e falado sobre o tema: A Música na Maçonaria.

Os motes apresentados por escritores e pesquisadores, sendo eles IIr∴ ou não, são diversos, apresentam compositores que fizeram e fazem parte da ordem, músicas compostas especialmente para sessões em Loja, composições elaboradas apenas para falar sobre determinado assunto
referente a esta sociedade discreta ou sobre rituais executados para cada Grau, como é o caso da ópera A Flauta Mágica, do compositor e ir∴ Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), que além de apresentar ao mundo profano de forma discreta o ritual de Iniciação Maçônica, também evidencia
vários outros símbolos de vários graus tanto simbólicos como filosóficos. Ou também sobre como o Mestre de Harmonia deve proceder para propiciar uma excelente egrégora selecionando músicas coerentes para cada momento durante as sessões.

Tenho como profissões no mundo profano, além de Radialista e Professor de História, a de Professor de Música e logo que fui iniciado, muitos termos, símbolos e palavras pareceram-me extremamente familiares no meu conviver musical, então, como todo e qualquer aprendiz, me encontrei apaixonado e curioso em conhecer muito mais sobre a Maçonaria.

Agora vem a explicação do por que do título deste trabalho, A Maçonaria na Música, que
acredito ganhar mais coerência à medida que vá galgando degraus superiores dentro da Ordem, haja visto que tudo o que se disser aqui é referente ao 1º Grau, o Grau de Aprendiz.

Observem que, a inversão do título frente a tudo que já fora pesquisado e publicado, é
proposital, pois, buscarei demonstrar que existe muito mais simbolismo maçônico dentro do universo teórico musical e na música propriamente dita do que apenas músicas compostas para a mesma.

É claro que a intenção aqui não é cansar a leitura, explicando o estudo da música na sua
parte mais teórica, mas, lançar um tema que poderá, a meu ver, ser muito estudado e desvendado por aqueles IIr∴ que, por ventura, sejam músicos e que se interessem por esse assunto.


Iniciarei pelo que acredito ser o mais frequente símbolo dentro da ritualística do grau de aprendiz maçom; o número 3.

  • São 3 os princípios (Liberdade, Igualdade e Fraternidade),
  • 3 batidas de malhete,
  • 3 vezes pela aclamação,
  • 3 vezes pela bateria,
  • 3 são as joias móveis,
  • 3 são as luzes da loja,
  • 3 são os degraus do Oriente,
  • No dia de minha iniciação, fiz 3 viagens,
  • No mesmo dia, recebi 3 purificações (Ar, Água e Fogo),
  • 3 são os elementos presente no altar dos juramentos (o Livro da Lei, o Compasso e o
  • Esquadro),
  • 3 são os graus da loja simbólica (Aprendiz, Companheiro e Mestre),
  • 3 são os símbolos do Oriente (Sol, Lua e o Delta Luminoso),
  • 3 são as colunas (Dórica, Jônica e Coríntia),
  • Reconhecemos os IIr∴ por 3 formas (toques, palavras e sinais)

Temos o número 3 presente na corda de 81 nós, pois, 81 é o quadrado de nove, e 9 o quadrado de 3, sendo o número 3 o único fator primo de 9, conforme o matemático da antiguidade Pitágoras.

E aí, começamos a diversão. Para Pitágoras, o número 3 é o número da divindade, ele também foi o fundador do conhecimento da harmonia musical; reconheceu as chamadas escalas musicais (escala em latim, significa escada, e na maçonaria fazemos ligação a ESCADA DE JACÓ onde o aprendiz deve conquistar seus degraus para atingir a perfeição), e para o músico, o treino incansável destas escalas o leva à perfeição musical. Pitágoras classificou estas escalas, tendo como referência os povos que dominavam a Grécia antiga e hoje, musicalmente conhecemos como: Modos Gregos: Jônico, Dórico, Frígio, Lídio, Eólico, Lócrio e Mixolídio; percebam que são “7” modos (o número necessário de IIr∴ para completarem a loja) e aparecem dois nomes familiares: Jônico e Dórico (ordem arquitetônica de duas das 3 colunas do Templo).

A escala musical é composta de 7 notas, e para a formação de um acorde perfeito, necessitamos de 3 notas (que representam uma consonância, que em latim significa soar juntas, ou seja, uma HARMONIA), estas notas necessárias são, a primeira nota, a terceira nota e a quinta nota da escala pretendida, esta quinta nota é chamada pelos músicos de (quinta justa) neste momento aparecem as três luzes da loja, o Venerável Mestre, o 1º Vigilante e o 2º Vigilante.

Esta quinta nota justa, é um intervalo entre duas notas distantes entre si 7 semitons ou 3 tons e meio, (mais uma vez aparecem os números simbólicos).

Se partirmos da escala de Dó no modo Jônico que é uma escala perfeita, sem acidentes, a primeira nota é DÓ, e sua quinta nota justa será SOL, representada pela letra G (maiúscula), observem que agregam-se mais dois símbolos, o Sol como sendo o princípio, a luz buscada por todos os maçons e a letra G, que para a ordem tem vários significados, Geômetra, God, GADU, Gama, Ghimel, etc.

A letra G também é comumente usada para representar a música em geral, através do símbolo da clave (chave em latim) ·. Observem que, a clave de sol, para muitos, se assemelha a um S, onde “erroneamente” representaria a palavra Sol, mas na verdade ela fora inserida na idade média representando a letra G, e como era comum entre os copistas da época enfeitar as letras maiúsculas, tantos foram os enfeites que, a letra original perdeu a sua forma chegando ao símbolo que conhecemos.

A clave de sol também é conhecida como ginoclave ou clave feminina (aí temos mais um símbolo interessante), a clave de Sol tem o seu início na segunda linha de uma pauta musical, partitura ou mesmo pentagrama, esta pauta é composta de 5 linhas e 4 espaços dando um total de 9 posições, a clave indica a altura desta nota, ou seja, o sol 3, localizado no meio o teclado de um piano; agora vem o mais interessante, temos neste momento o painel situado no Or∴, tendo a nota SOL, que representa o masculino, a luz e o próprio Sol, a CLAVE, representando a Lua, a obediência e o feminino; e a altura da nota Sol 3, que representa o Delta luminoso com seus 3 ângulos retos, representando a perfeição e o G∴A∴D∴U∴.

Pitágoras definiu também como primeira nota, o Alfa ou A por ter a frequência de 432 Hz, (4 + 3 + 2 = 9, mais uma vez um número simbólico) considerando esta frequência como sendo o Som de Deus. A partir daí, usou-se para representar estes sons, as principais letras do alfabeto Jônico; no período romano definiu-se o restante das notas como sendo A, B, C, D, E, F, G. Na Idade Média, com a rápida ascensão do cristianismo, o Papa Gregório I, instituiu o Canto Gregoriano, também chamado de Cantochão; para padronizar os cânticos dos clérigos, com a finalidade de diferenciar dos cantos pagãos dos gregos.

Neste momento, surge um monge italiano chamado: Guido D’Arezzo, que batizou as notas que conhecemos, baseando-se em um texto solfejado pelos monges quando entoavam um hino dedicado a São João Batista, (por incrível que pareça o padroeiro da Maçonaria).

O hino diz o seguinte:

Ut queant laxis

Resonare fibris

Mira gestorum

Famuli tuorum

Solve polluti

Labii reatum

Sancte Ioannes

Que significa:

“Para que teus grandes servos possam ressoar claramente a maravilha dos teus feitos, limpe nossos lábios impuros, ó São João.”

Guido tomou as primeiras sílabas deste hino para determinar as notas cantadas: Ut, Re, Mi, Fa, Sol, La, e o último “solfejo” o nome do hino: Si, que em latim, significa Sancte Ioannes (São João).

No século XVIII, tendo os cantores da época muita dificuldade em cantar a sílaba Ut, entra em cena o musicólogo e humanista Giovanni Battista Doni, que ficou conhecido por substituir a sílaba Ut pela sílaba do nome de sua família Dó (Doni), criando assim, a nomenclatura musical conhecida até hoje; DO, RE, MI, FA, SOL, LA, e SI. Observem que o nome deste maestro traduzindo para o português significa João Batista Doni.

Essas notas que são conhecidas desde nossa infância são em número de “7”, mas elas não são inteiras, podem ser fracionadas no que chamamos de meio-ton. Em uma escala cromática, que é uma escala onde se apanham todas as notas juntamente com seus meios-ton, totalizam 12 notas, o número 12 está representado na maçonaria no início e no final dos trabalhos dos AAp∴, ao meio dia e à meia noite respectivamente, também o encontramos nas 12 colunas zodiacais e no tempo necessário para a elevação e posteriormente a exaltação. Para entender melhor esse meio-ton, é só observarmos o teclado de um piano, onde, as teclas brancas são os tons e as teclas pretas os meios-ton. Quando a escala é ascendente, ou seja, vai do som mais grave ao mais agudo, acrescentamos nos meios-tons um sinal e o chamamos de Sustenido, quando ocorre o contrário, substituímos o sustenido pelo Bemol.

Para representar o bemol, utilizamos a representação de um (b) minúsculo, já para representar o sustenido, utilizamos a representação de uma cerquilha (#), este mesmo símbolo nós encontramos na maçonaria, localizada no Or∴ na prancheta ou tábua de delinear que é uma das joias fixas do templo e instrumento de trabalho do M∴M∴, este símbolo é conhecido como a cruz quádrupla representando a limitação da capacidade do homem, e ao lado desta encontramos a cruz de Santo André no formato de um X, representando o infinito, elas servem como chave para o alfabeto maçônico. Agora o mais interessante é, para representar o aumento de meio-ton, inserimos o sustenido (#), e para indicar o aumento de dois semitons dessa mesma nota inserimos um X.

Muitos poderão deduzir que tudo isso não passa de coincidências que permeiam os mundos da maçonaria e da música, mas, para mim é matemática pura e exata, aritmética, geometria, criada e disponibilizada por um ser superior, justo e perfeito, um Grande Arquiteto do Universo e por isso, possuem similaridades fascinantes.

Acredito que este assunto possa ser complementado com muito mais informações e correlações entre estes dois mundos, mas isso se dará no seu tempo e no meu tempo.

Rogo ao G∴A∴D∴U∴, que continue a me reger em sua melodia como uma nota justa e perfeita na pauta de minha vida maçônica.

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Mestre Maçom da ARLS Cavaleiros da Arte Real

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